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Falando de Ciganos...

  • Pedro Costa
  • 29 de jan. de 2017
  • 11 min de leitura

Quando comecei, admito, pensei que seria mais fácil.

Tenho o hábito de me autodefinir um “saniássin”, mestre de mim mesmo, buscador das verdades ocultas do universo; posso afirmar que estou acostumado, já há quase duas décadas, a pesquisar alguns dos mais bem guardados segredos da humanidade.

Já nos primeiros contatos com as ciências herméticas deparei-me com conhecimentos atribuídos (também) às tradições ciganas, como o Tarô e a Quiromancia, o que fatalmente me levaria a pesquisar mais profundamente esse povo e seus costumes com o passar do tempo e à medida que avançasse nos estudos.

Mais recentemente tive contato com a assim chamada “dança artística cigana”, à qual fui apresentado por minha esposa, e pela qual me encantei desde o primeiro momento. Foi o sinal de que era chegada a hora.

Só não imaginei que minhas habilidades investigativas adquiridas ao longo dos anos de pesquisas no campo do ocultismo seriam tão requisitadas. A exemplo do que acontece ao se estudar assuntos esotéricos, quando o tema é a história do povo cigano, fica quase impossível diferenciar à primeira vista o que pode ser levado a sério do que não passa de lenda, fantasias, boatos ou crendices. É necessário separar o joio do trigo; do que dizem ou escrevem por aí, não se aproveita nem dez por cento.

Da história antiga, evidências documentais são raríssimas; a suposta origem há mais de três mil anos na região de Gujaratna, ao norte da Índia, defendida por alguns descendentes Kalom e Sinti, não encontra respaldo unânime nem mesmo dentro dos próprios clãs. Porém, quando acrescidas de detalhes, locais e nomes, as estórias tornam-se mais verossímeis, e pior, mais sedutoras aos ouvidos daqueles que se pretendem seus herdeiros ou remanescentes... Assim, quando se diz que a primeira diáspora dividiu aquele povo em dois braços distintos, os Pechen, que atravessaram a Grécia, e os Beni, que passaram pela Síria, Egito e Palestina, ambos chegando à Europa em épocas e por caminhos diferentes, desmembrados então nos diversos clãs que existem até hoje... Fica fácil acreditar; mais fácil ainda se você estiver no Brasil, onde ao contrário do resto do mundo (notem que atualmente, ainda há lugares em que um cigano tem que esconder sua origem para não morrer), aqui as pessoas mentem e se fazem passar por ciganas para viver (soa místico pertencer ao “povo das estrelas”). Esta suposta origem indiana continua sendo a mais aceita e a mais provável, porém, ainda não é categoricamente afirmada.

Dei-me o trabalho de (pela segunda vez) ler o Mahabarata, de capa a capa, na intenção de, por entre os mitos e fatos históricos ali mesclados, encontrar qualquer vestígio, menção de um nome ou qualquer pista que eu pudesse associar a algum povo, fosse ele pertencente aos Árias ou Dãsyos (como eram originalmente chamados os primitivos habitantes do Hindustão, de raça dravídica – posteriormente esse termo vulgarizou-se como designação de qualquer indivíduo não ariano – anarys em sânscrito), que vivesse às margens do rio Send na época referida; nada encontrei que me servisse a esse propósito. Com efeito, nem mesmo o tal rio Send eu consegui encontrar no mapa do Gujarate, segundo estado mais industrializado na Índia atual, depois de Maharashtra (e fica a oeste da Índia, não ao norte). Pode ser que essa referência seja apenas mais um subproduto de uma das numerosas lendas ciganas (A lenda de Sind, por exemplo).

A verdade é que a origem indiana dos ciganos, teoria defendida pelo alemão Heinrich Grellmann em 1783, é reforçada apenas pela semelhança de algumas palavras da língua Romani com o Sânscrito, o que não é suficiente para comprovar, mas é relevante o bastante para não se descartar a hipótese; vale lembrar que o Romanês tem também inúmeras palavras de origem persa, turca, grega, romena e de outros países por onde os ciganos passaram.

Ainda sobre o idioma cigano, é importante destacar que atualmente reconhece-se como ciganas três principais línguas (apesar de haver ainda centenas de dialetos delas derivados):

  • A língua Romani (ou Romanês), falada pelos chamados Rom, entre os quais destacam-se os clãs Kalderash, Matchuaia, Lowara e Curara, predominantes nos países balcânicos, mas que no final do Século XIX apareceram inclusive nas Américas, a maioria fugida da Transilvânia, Walaquia e Moldavia (locais onde eram escravos), na época principados feudais, que formaram o que é hoje a Romênia;

  • A língua Sintó, falada pelos Sinti, também conhecidos como Manouch, encontrados principalmente na Alemanha, França e norte da Itália, quase inexistentes no Brasil (alguns estudiosos defendem que o Sintó seja também uma derivação do Romani);

  • A língua Kaló (ou Shib de Kalon), falada pelos Kalom (ou Kalé), predominantes na Península Ibérica, onde são conhecidos como Gitanos, os quais chegaram à América do Sul, notadamente no Brasil, em grande parte, trazidos pelas naus portuguesas, como degredados. Cumpre notar que mesmo na região da Andaluzia, no sul da Espanha, onde têm sua maior concentração, são poucos os ciganos que falam a língua Kaló; entre si, geralmente conversam em espanhol.

Mesmo essa classificação acima não é universalmente reconhecida; muitos estudiosos defendem que o Romanês é uma língua morta, e que essas três línguas não passam de dialetos, contaminados pelas culturas hospedeiras pelas quais passaram.

A escassez de registros e material para estudo, no caso dos ciganos tem ainda uma agravante – a meu ver, muito séria, diga-se de passagem:

O acima mencionado Grellmann (que morreu em 1804), foi o pioneiro dos estudos ciganos (oficialmente falando), seguido pelo inglês George Borrow (1803-1881); ambos costumam ser citados até hoje por muitos ditos “ciganólogos”.

A questão é que o maior sucesso editorial de Grellmann, um best-seller traduzido em várias línguas, o que lhe atribuiu grande notoriedade e certa “autoridade” no assunto, em sua maior parte não passa de uma compilação de artigos anônimos, em alguns casos, literalmente transcritos; ele teve pouco contato direto com ciganos, e ainda costumava citar fontes sensacionalistas... Em um capítulo ele transcreve uma notícia de jornais de 1782 que acusava os ciganos de canibalismo (na ocasião 41 ciganos foram decapitados, enforcados ou esquartejados). Logo após a publicação do livro (e sua subsequente divulgação mundial) ficou provado que os 41 ciganos executados (e outros 43 ainda presos) eram inocentes.

Desta forma, o primeiro pretenso livro “científico” sobre a origem, a cultura e o caráter dos ciganos não foi nada científico; apenas reproduziu os estereótipos da época sobre os ciganos; foi, na realidade, um livro anti-cigano.

Pior é constatar que inúmeros “pseudo pesquisadores” posteriores, do Século XIX e mesmo do Século XX, vários dos quais nunca sequer viram um cigano pessoalmente, seguiram o “modelo” de pesquisa de Grellmann, baseando seus estudos no material do famoso alemão, reforçando e retransmitindo os estereótipos e preconceitos do final do Século XVIII.

O segundo pioneiro acima citado, o inglês Borrow, que se autointitulava um “romany rye” (romani rai), uma espécie de amigo íntimo dos ciganos, apesar de não-cigano... Até teve contato com ciganos na Inglaterra, Espanha, Rússia e Hungria, mas sempre contatos de curta duração e não tão íntimos como ele fazia crer.

Com a publicação de seu primeiro livro, “The Zíncali”, Borrow tornou-se igualmente um importante formador da opinião pública e científica acerca dos ciganos. No livro, ele apresentou uma imagem altamente negativa e estereotipada dos ciganos espanhóis: degenerados, vigaristas, ladrões... Apesar de também conter informações positivas sobre os ciganos, no decorrer do livro todo, predominam os estereótipos negativos, incluindo um extenso capítulo que trata do suposto e imaginário “canibalismo cigano”. Os demais livros de Borrow seguem a mesma linha, e provam ainda que também ele, como Grellmann, não tinha a mínima simpatia pelos ciganos e que, na realidade, até os detestava. Inexplicavelmente, mesmo depois de ter sido descoberto, em 1874, que Borrow plagiara muitas informações de um livro de viagem pouco conhecido, publicado em 1818 por Richard Bright, o autoproclamado “romani rai” e “amigo dos ciganos” Borrow ficou famoso como a maior autoridade em assuntos ciganos na Europa do Século XIX.

Como Grellmann, Borrow da mesma forma inspirou e serviu de exemplo para tantos outros “pseudo ciganólogos” posteriores, alguns dos quais até mesmo plagiaram seus livros já plagiados.

Já no Século XX encontramos o espanhol F. M. Pabanó (1915), dando sequência à perpetuação dos mesmos estereótipos e preconceitos contra os ciganos espanhóis; em 1930 o linguista romeno C. J. Popp Serboianu, em seu livro “Les Tsiganes”, com evidente teor anti-cigano, obviamente referindo-se aos ciganos romenos, mais especificamente os Netotsi, afirma textualmente que os ciganos são canibais, e descreve monstruosidades por eles cometidas contra crianças, dando a entender que acompanhou de perto esse povo.

Mas, o mais estarrecedor vem agora... Em 1981 (em termos históricos, praticamente ontem) o antropólogo português Olímpio Nunes, em seu livro “O Povo Cigano”, plagia quase na íntegra o infame capítulo sobre os “costumes ciganos”, escrito pelo romeno Serboianu, fazendo supor que se trata de costumes dos ciganos portugueses, nossos contemporâneos, observados por ele em suas pesquisas de campo. Isto certamente põe em xeque a credibilidade, no mínimo quanto à autoria do teor restante da obra de Nunes. Aliás, o livro é tão atual que me parece ainda estar à venda em livrarias, inclusive pela internet.

Ironicamente, em 1989, Nunes foi agraciado com um prêmio internacional, atribuído na Espanha, a não-ciganos que contribuem “para a defesa da causa cigana e pelo respeito de seus direitos e liberdades”. Fala sério!

Como se pode perceber, tem muita gente premiada prestando grandes desserviços a esse povo já tão castigado pela história.

No entanto, quase no limiar do ano 2000, tivemos acesso a obras confiáveis de historiadores e cientistas sociais não-ciganos, como o historiador francês François Jourda de Vaux de Foletier, autor de “Les Bohémiens en France au XIXe siècle” e “Le Monde des Tsiganes”, além de mais de duzentos artigos publicados na revista “Estudios Gitanos” e no “Diario de la Gypsy Lore Society”, assim como alguns livros escritos por intelectuais ciganos, do quilate de Juan de Dios Ramírez Heredia, autor de “Cartas Del Pueblo Gitano”, entre outros.

Mas, como eu disse lá no início, separar o joio do trigo não é tarefa fácil, e a grande maioria das pessoas não tem preparo para isso; vejo com frequência pessoas respeitadas como “autoridades” no assunto, autointitulados “estudiosos”, cometendo erros crassos de generalização.

Afirmar que o Romanês (o conhecido atualmente) é a língua dos ciganos é um desses equívocos, criado originalmente por alguns assim chamados “pesquisadores”, que tomaram apenas os Rom como modelo para estudo, e a partir deles determinaram um padrão de comportamento, tradições, costumes e língua para identificar o cigano legítimo, excluindo povos que não se enquadrassem na descrição. Este conceito foi prontamente absorvido e repassado por representantes dos Kalderash e dos Lowara, com o aparente intuito de angariar para si o status de “ciganos autênticos”, relegando assim os demais à classificação de “ciganos espúrios” ou de segunda categoria. Esse tipo de discriminação entre os próprios ciganos é mais comum do que se imagina.

Outro erro muito comum: Por motivos semelhantes, o kris Romani (Tribunal Cigano), o Marimé (Conceito de Impureza) e a Pomana (Ritual Fúnebre) costumam ser descritos por nove entre dez “ciganólogos” como se fossem comuns a todos os ciganos, quando se trata apenas de características culturais Kalderash. Na realidade, essas tradições nem são de origem “cigana”, mas sim de comprovada origem balcânica, assimilados ao longo de quatrocentos anos de convivência (presumidamente forçada).

No Brasil encontramos ainda outro empecilho à pesquisa séria (antropologicamente falando): a disseminação de algo parecido com uma espécie de “religião cigana”. Nesse meio vemos gente formada em filosofia e jornalismo, com dezenas de livros publicados, divulgar os chamados espíritos ciganos e seus trabalhos na linha do Oriente. Nada contra a fé e crença de ninguém, crer é uma opção, e cada um acredita no que quiser...

Mas, essas seitas (ou, seja qual for a denominação adotada) acabam atraindo simpatizantes da cultura cigana, entre eles alguns legítimos descendentes de ciganos, que por alguma peripécia do destino (possivelmente preconceito ou perseguição), tiveram sua origem ocultada pelos antepassados, mas que em dado momento decidiram reassumir sua ancestralidade; a falta de conhecimento sólido sobre o próprio passado, somada a uma formação cultural geralmente limitada (comum no Brasil), leva esses reconvertidos ao “ciganismo” a incorporarem as ideias que lhes são passadas, sem uma avaliação minimamente crítica... E esses novos conhecimentos são repassados para os filhos como herança cultural... Em três gerações tornam-se tradição familiar... É o mesmo processo pelo qual se formam os paradigmas. Quando se vê, existem verdadeiros descendentes de ciganos, vestindo-se conforme os estereótipos, agindo de acordo com esses estereótipos, e dizendo absurdos justificados com um simples “na minha família sempre foi assim; aprendi com minha mãe, que aprendeu com minha avó”, e ninguém pode desmentir, porque a pessoa tem mesmo sangue cigano. Nem quero mencionar aqui os inúmeros nascidos não-ciganos, mas “ciganos de alma”, que proliferam por ai e ajudam ainda mais a perpetuar essas visões equivocadas sobre a cultura cigana.

Minha simpatia por essa cultura continua a mesma, mas à medida que me aprofundo, aumenta meu respeito por esse povo, que mesmo exposto à inimaginável bestialidade de que o ser humano é capaz, continua firme a manter sua identidade.

Suponho não valer a pena repetir o que tantos outros já escreveram, sobre a contribuição com a escravidão massiva dos ciganos na Waláquia e na Transilvânia, promovida pelo príncipe Vlad Dracul, que os capturou na Bulgária, ou sobre a posterior transferência de milhares desses escravos para a Moldávia por Estevão, o Grande, ou o “Atleta de Cristo”, como era chamado pelo Papa Sisto IV (o mesmo que estabeleceu a inquisição espanhola).

Também não pretendo me estender em assuntos amplamente explorados, como as três grandes ondas migratórias de ciganos para o oeste (Europa Ocidental e Américas):

  • A primeira no início do Século XV, quando aparecem na Europa, notadamente na Alemanha, vindos dos Balcãs, “os Tártaros, chamados ciganos”, que posteriormente alcançariam a França, e que se diziam originários do Pequeno Egito e de Igritz, de onde teriam sido expulsos pelos turcos.

  • A segunda onda a partir de meados do Século XIX, após a abolição da escravidão cigana na Moldávia e Waláquia (atual Romênia); a chegada destes milhares de novos migrantes fez com que alguns países criassem ou repensassem suas políticas ciganas, culminando com o holocausto cigano, na Alemanha nazista (estima-se em 500.000 o número de ciganos exterminados pelos nazistas na II Grande Guerra).

  • A terceira onda é percebida com o colapso dos regimes comunistas no Leste Europeu, a partir de 1989 (neste ano, Nicolae Ceauşescu – presidente (ditador) da Romênia socialista desde 1965, e sua mulher, foram condenados à morte por vários crimes, incluindo genocídio, e executados em Târgovişte), quando novamente dezenas de milhares de ciganos migram ou se refugiam na Europa Ocidental ou nas Américas (nessa época, vi pessoalmente vários desses imigrantes romenos (eles diziam "România") nos semáforos de São Paulo – na ocasião, confesso que não sabia tratar-se de ciganos).

Antes de concluir, e em defesa da verdade, gostaria de corrigir uma reclamação que ouço com certa frequência de alguns “pesquisadores”, sobre não haver nenhuma menção oficial acerca do holocausto cigano, e de só os judeus serem lembrados.

É óbvio que esta notícia não conserta nem diminui as atrocidades cometidas, mas é digno de nota que em dezembro de 2008, o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, iniciou em Berlim a construção de um memorial para os representantes das etnias Sinti e Rom (a expressão original era “Ciganos”, mas foi mudada por exigência de representantes das duas etnias, que consideraram o termo pejorativo), assassinados pelo nacional-socialismo na Segunda Guerra. Os nomes dos campos de concentração e extermínio Auschwitz, Treblinka e Buchenwald foram gravados no pavimento, que leva a uma fonte, em cuja borda se lê o fragmento de uma poesia do músico italiano Santino Spinelli (o qual reproduzo ao final deste texto).

Devemos admitir que, embora tratar-se de um termo genérico inventado na Europa do Século XV, a expressão “Cigano” hoje já não soa pejorativa como em sua origem.

O grande lema popularmente atribuído ao Povo Cigano: "O Céu é meu teto; a Terra é minha pátria e a Liberdade é minha religião" (creditado a falsos ciganos por alguns), amiúde nos traduz um espírito essencialmente nômade e livre dos condicionamentos das pessoas ditas “normais”, em sua maioria, cerceadas pelos sistemas aos quais estão subjugadas.

Esta pesquisa, no entanto, me fez perceber a utopia em que os romances, filmes e todos os demais produtores de estereótipos nos fazem crer; o histórico de escravidão, perseguições, racismo e marginalização social não propiciaram aos ciganos essa vida livre que fantasiamos.

Mesmo assim, apesar dos estigmas do passado e das adversidades do presente, podemos sim... Mais que isso... Devemos considerar os ciganos, um povo de espírito livre, no sentido de se ramificar ao longo de tantas épocas e lugares distintos, mantendo o prazer e o orgulho em serem ciganos. Nômades ou sedentários, ricos ou pobres, sempre evocarão uma aura de liberdade em seus pés descalços e movimentos espontâneos, que jamais conseguiremos imitar.

Para concluir, em homenagem aos ciganos de todo o mundo, reproduzo aqui o fragmento de poesia gravado no memorial em Berlim:

“faces encovadas olhos apagados lábios frios silêncio um coração arrancado sem palavras nenhuma lágrima”

(Santino Spinelli)

Pedro Costa.

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